Arquivo de julho, 2012

Blues de Saturno

Publicado: julho 31, 2012 em Contingência

Bem, se você ainda não conhece Black Keys, provavelmente mora em Saturno, ou para lá de Plutão.

O caso é o seguinte, não sei como é o blues daí, mas por aqui essa dupla está explodindo tudo o que vê pela frente. Rock visceral, um blues sacolejante. Dá vontade de abrir a porta e mergulhar na rua.

Imagine um amplificador trincando na distorção e uma bateria desesperada. Imagine um show escuro e esfumaçado. Amigos por todos os lados. Pessoas jogando cerveja para cima, braços balançando ao alto. E de repente, a banda faz uma pausa. Alguém da platéia grita:

– Porra! Toca Raul!

Silêncio. O mesmo sujeito grita de novo:

– Ei, por que não toca Raul?!

E o vocalista fala:

– Ei cara, por que você não vai pra Puta que te Pariu?

E emendam essa porrada aqui. Daí em diante.

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Eduardo Pastore

 

 

Coletivo

Publicado: julho 23, 2012 em Coletivo
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Rock em momentos de crise econômica

Por Haitam Naser

Outro dia desses estava em casa vendo o documentário “Rebel Truce” sobre a história da excelente banda The Clash. Confesso que nunca fui fanático pelo grupo britânico, mas ao longo do filme fui admitindo que não prestei a devida atenção à banda. No entanto, o mais legal desse filme e de tantos outros documentários sobre o rock é a simbiose entre o rock e a depressão econômica. Explico. Quase sempre em momentos de recessão, baixo crescimento econômico, declínio moral e baixa estima da população surgem importantes movimentos musicais e/ou excelentes bandas de rock. Foi assim na década de 30 com a popularização do blues nos EUA com o surgimento dos primeiros grandes nomes do gênero como Charley Patton, Robert Johnson, Willie Brown e Sonny Boy Williamson; foi assim na Inglaterra no final da década de 70 com a explosão do movimento punk sob a batuta do Sex Pistols, London SS e The Clash. Foi assim novamente nos EUA com o movimento grunge em meados da década de 90 com o Nirvana, Pearl Jam, Mudhoney, The Melvins e Soundgarden. Embora muitas dessas bandas não tenham um discurso político claro, de alguma maneira suas percepções musicais incorporaram essa baixa estima da população. Em tempos de crise econômica, principalmente na UE, nós ávidos rockeiros estaremos aguardando pelas novidades. Quem sabe não surge uma banda bombástica da Grécia. Vejamos.

Abs!

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Gary Clark Jr.

Por Marina Arruda

A performance diz tudo.

SPIN Sessions: Gary Clark Jr. “Please Come Home”

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Rodsão indica: Alabama Shakes

Por Paulo Pastore

O Globo

“Eles são minha banda nova favorita”, Alex Turner, vocalista dos Arctic Monkeys, à “NME”.

“Eu adoro isso” (sobre o vídeo de “Hold on”), Adele, cantora, no Twitter.

“Tem algo com o espírito deles que me faz querer largar tudo e correr o país de carona num trem com um violão e uma garrafa de uísque”, Mark Foster, líder do grupo Foster The People, que toca “Hold on” em seus shows, à “NME”.

“O show do Alabama Shakes foi o centro do universo hoje à noite. Essa banda é de verdade. Faça um favor a você mesmo (e vá ver um show deles)”, Russell Crowe, ator, no Twitter.

“Eles são força bruta, não precisam de truques. Suas canções são boas o suficiente”, Justin Young, líder dos Vaccines, à “NME”.

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Um bumerangue da África

Publicado: julho 9, 2012 em Contingência

O quanto nós estamos abertos a escutar algo novo? De algum lugar inesperado? Com referências musicais distantes?

Pessoalmente, sinto uma preguiça danada. Se mal dá tempo de pesquisar sobre as coisas que eu já gosto, vou me arriscar a perder tempo?

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Não perder tempo: esse é o mantra. Há tantas demandas nos puxando por todos os lados, não sobra um minuto para nada, simplesmente. Escutar um álbum inteiro? Nem pensar.

Ainda bem que surgiram as timelines das redes sociais. Alguém já teve o trabalho de filtrar, nós não precisamos gastar energia garimpando uma tonelada de listas de músicas.

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Vivemos a chamada Era das Recomendações. Nós temos 70% de chance de confiar em alguma recomendação, contra 14% de confiar numa publicidade tradicional. De onde surgiu esse dado? Da Internet.

Se é confiável? Bem, me recomendaram, então eu passo adiante.

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De modo que ultimamente impera, neste espaço de reflexão sonora, o reativismo à experiência. Ao menos de minha parte. Muita coisa passa ao largo.

E se dependesse da boa vontade,  seria esse o caso de Amadou & Mariam. Parar na prateleira do world music da falida Discoteca 2001. Daquelas que eu passava longe, quando ainda havia lojas de CD.

Mas não pensem que descobri por causa do Twitter ou do Facebook. Pensando bem, as timelines são bem conservadoras. Ninguém quer se arriscar muito.

Na verdade, quem me recomendou o CD foi o Manu Chao (?).

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Não em pessoa, claro. Tenho, contudo, uma tendência a confiar no que o macambúzio faz. Mesmo com as peças que ele nos prega em Brasília, quando aparece tresloucado para tocar nos shows do Arena.

Bem, há uns anos, caiu na minha mão um CD do casal de malineses produzido pelo Manuzão, chamado Dimanche à Bamako. Foi mais ou menos como um bumerangue arremessado direto na testa.

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Gosto desse tipo de descoberta. Normalmente eu taco o bumerangue para cima, esperando que ele volte e bata na cabeça de novo. Com mais força, se possível.

Ouvi sem parar Senegal Fast Food.

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Por esses dias, o casal andou nas páginas da Folha. Tocaram no festival Back2Black, em Londres. E sabe o que Amadou falou:

"No exterior, a música africana continuou por um bom tempo (*) sob a etiqueta de 'world'. Tivemos de derrubar essa barreira para destacar a importância do blues e do rock para nós."
(*)Adaptado.

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Amadou pegou leve. Ficaria melhor assim:

– Nós fazemos rock da África, caralho!

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Às vezes, dá trabalho descobrir o novo. Às vezes, vale a pena.

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Eduardo Pastore